O vento
açoita, forte e cortante, dificultando cada passo rumo ao
topo, tornando a subida um tormento. Uma tempestade se aproxima, é possível ver
as nuvens carregadas no horizonte, raios abalam a terra.
Estou cansada da longa jornada, é um caminho pedregoso,
estou cheia de hematomas e cortes das quedas. A vida tem deixado marcas e
profundas cicatrizes. No início da jornada a primavera reinava colorida, os
anos se passaram e suportei todas as estações com afinco, lutei para sobreviver
todos os invernos. Mas chegara o mais rigoroso de todos, o que causara mais
cicatrizes, e que ainda açoita minha alma.
A tempestade começou e sem aviso meu corpo desiste de
lutar contra ela e contra tudo que se apresentou no caminho, então desabo no chão
pedregoso. As gotículas caem pesadas e o vento torna-se cada vez mais feroz,
rapidamente uma poça se forma em minha volta, estou enrolada em uma pequena
bola protetora, como se isso fizesse a dor parar, minha alma sangra, vejo – o esvaindo
junto com a água que escorre da chuva.
Como num filme caseiro revejo os momentos incríveis que
compartilhei com as pessoas que amo, porém nem isso é suficiente para que volte
a superfície, minha alma se afoga em dor e tristeza, as águas estão turvas a minha
volta, mas a calmaria reina e me deixo afundar cada vez mais.
Não faz sentido estar vivo e não sentir nada, já não
sinto o vento, o riso não brota com facilidade. As primaveras tornaram – se cada
vez menos coloridas, já não faço mais parte desse mundo. Chego ao fundo e minha
alma clama por ar, sem pestanejar me entrego a paz proporcionada pelas águas e
me vou para sempre...
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