O
dia amanheceu e a luz do sol tenta ultrapassar as barreiras imposta pelas
folhas e galhos das árvores, tão altas que se perdem na densa neblina que cobre
a grande floresta. O verde predomina tudo por aqui. As plantas rasteiras cobrem
o solo. É tudo tão verde... Faz alguns anos que estou procurando o caminho de
volta para casa, mas a cada dia que se passa fico mais presa a este lugar.
Cansada da caminhada sento-me em um
tronco, recoberto de musgos, ainda está húmido devido às longas horas de chuva
que caem por aqui. Lembro-me do dia que entrei na floresta... Estava à procura
de um tesouro. No começo estava acompanhada das pessoas que amo. Estávamos em
grande numero todos dispostos a me ajudar, disseram que ficariam comigo até o
fim mesmo sabendo dos perigos que havia na floresta. Ao longo da jornada vi
companheiros meus me abandonarem no momento em que mais precisei... Foi quando
escorreguei na trilha e cai pelo penhasco. Gritei para que me ajudassem, mas o único
som que recebi em resposta foi o som da floresta. Olhei para o céu pedindo
socorro e o silêncio foi dado como resposta. Senti-me o ser mais insignificante
da face da Terra...
Após muito chorar andei a esmo pela
floresta. Não havia trilha para seguir, apenas fui em frente, na esperança de
encontrar alguém ou um caminho para seguir. Às vezes ouvia passos e corria a
procura da origem do som, mas quando chegava ao local ele estava vazio. Então continuei
minha caminhada sem rumo, e a cada dia que se passava a esperança de encontrar
o tesouro se esvaia assim como partes de minha alma, já que a felicidade se
fora.
Agora eu me encontrava no centro da
floresta. Eu sabia disso porque ali estavam as árvores mais altas. Era uma
paisagem bonita, porém um pouco assustadora. O silêncio fazia morada ali. Nem a
brisa revolvia as folhas das plantas. Observei
minhas vestes, estavam com vários rasgos, suja de limo e terra em varias
partes, minha pele também estava com vários hematomas e pequenos cortes devido às
varias quedas que sofri durante a jornada. Começava a chover novamente, mas eu
estava segura ali na floresta, as largas folhas impediam que grande parte da
chuva caísse sobre mim, fazendo com que apenas alguns pingos aleatórios me
molhassem.
Fiquei ouvindo o som da água batendo
nas folhas e viajei no tempo... Em uma época distante quando a felicidade
reinava em minha alma eu dançava na chuva, a sensação era maravilhosa, mas a
melhor imagem que meu cérebro resgatou foi do beijo na chuva... Ele estava tão
lindo com os cabelos molhados, apesar da água fria, seu toque era quente em
minha face. Naquele momento vi em seus olhos a certeza de que ele sempre
estaria ao meu lado. Porém o tempo nos separou e agora eu estava só naquela
imensa floresta.
Após tais reflexões resolvi continuar a
jornada. Rapidamente minhas roupas ficaram encharcadas. Mas essa tempestade
tinha uma energia diferente, me renovavam as forças e segui com mais rapidez. E
no caminho havia uma pedra, tropecei e rolei barranco abaixo. A tristeza me
invadiu e fiquei ali enroscada em uma bola, com as lágrimas se misturando com a
chuva. Adormeci. Acordei com um sussurrar, mas não tinha forças para me
levantar e permaneci ali no chão lamacento pela chuva.
A voz continuava, dizia que nada estava
perdido, que ainda havia esperança... E que se o medo ainda predominasse em meu
coração não era para dar ouvidos a ele, pois nada que ele havia causado era
importante. Esgotando minha reserva de forças levantei-me e senti meu coração
pulsar com determinação. Limpei o barro da roupa e segui em frente e quando
empurrei uma fileira de samambaias eu vi... Era uma pequena clareira salpicada
pelas mais lindas flores, o vento fazia a relva se agitar suavemente com seu
toque, delicadamente eu avancei. Sentindo as flores, os sons, tudo a minha
volta indicava sinal de vida e parado no meio da clareira estava ele segurava
um pequeno diamante nas mãos. Disse que ele o havia pegado na forma bruta e que
o lapidou durante todo o período em que estivemos separados. Ele era lindo,
possuia um brilho maravilhoso e combinava com a suavidade da clareira. Ele me
abraçou e meu mundo ficou completo novamente. Senti a felicidade se espalhando
pelo meu corpo.
Somos comparados a pequenos diamantes,
na forma bruta podemos parecer sem vida e até sem graça, mas cada faceta vai
sendo lapidada em nossa jornada de descoberta e em nossa caminhada por esta
vida. Cada lagrima representa uma vitória. Cada sorriso representa uma vida,
pois somos mais do que os olhos podem ver...
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