A primavera chegou a alguns
dias, levando consigo toda a neve embora, porém ainda resta o vento gélido que
traz a memória os dias tristes de nossas vidas. Mais um dia amanhece e os raios
de sol invadem o planeta, você olha pela janela e vê que o dia nasceu lindo,
mas está bonito e perfeito lá fora, porque dentro de você neva e reina o
caos... Aliás, há anos que a primavera foi embora do seu mundo, levando consigo
seus sonhos e congelando seu coração.
Você levanta da cama sem
muita vontade, olha – se no espelho e vê os primeiros sinais de rugas
aparecendo. É o tempo não parou só porque você se fechou para o mundo. Deixa as
rugas de lado e foca nos olhos, mas não é a íris que vê, é o filme de sua
vida... Vitórias, derrotas, família, abismo, amigos, o fundo do poço, amores,
decepções. Porém tem algo que procura e não está ali... O que seria?
Pega uma xícara de café,
senta – se a mesa, a casa está monótona e vazia. Dirigi – se para seu lugar
favorito, uma grande árvore no topo de uma colina. Enquanto caminha, seus
pensamentos voam turbulentos, esta manhã eles estão muito inquietos. Embaixo da
árvore recosta – se no tronco e observa a copa alta com suas folhas. Aquela
guerreira já fora bela um dia com suas magníficas flores, mas isso foi antes do
duro inverno. Agora só restavam as marcas e nada de flores. Observa o campo a
sua volta, tudo está parado e sem vida. Isso o oprime, sorve um pouco de café
numa tentativa de acalmar os ânimos, em vão.
Desesperado levanta gritando
e joga a xícara contra a árvore e a observa se espatifar na sua frente, uma
mera tentativa de libertar – se da prisão que criou para si. Arrependendo – se do
que fez vai ao pó e o grito que ecoa desta vez é de rasgar a alma, como o de um
animal ferido que anceia pela morte. Porém ninguém te ouve, já não há mais a quem
recorrer, uns se foram e outros você afastou...
Depois de tanto sofrer não
houve escolha a não ser fechar – se para o mundo e viver na solidão. Na época pensara
ter feito a escolha certa, porém agora percebe o quão errada foi essa decisão.
As lágrimas turvam seus olhos, pega um caquinho da xícara e chora... Ah... Fora
presente de alguém especial. Mais uma vez grita revoltado indagando o porquê de
tanto sofrimento e desilusão. E sua alma chora.
Ouve passos atrás de si,
enxuga as lágrimas e coloca a máscara de felicidade. Um senhor se aproxima
sorrindo e senta – se ao seu lado, pega dois pedaços da xícara unindo – os e diz:
- Sabe que comigo não
precisa colocar essa máscara, te conheço desde pequenino filho... -- Pega os
outros caquinhos e começa a uní - los – Brinquedos quebrados tem concerto.
- Mas ficarão cicatrizes...
- Apenas os lutadores
carregam marcas e só os vitoriosos poderão mostrá – las ao mundo.
- Mas...
- Não se preocupe no tempo
certo essa árvore voltará a florescer e um dia dará frutos...
Uma brisa suave varre a
colina e tudo está quieto novamente, mas desta vez não há opressão, apenas paz.
Ergue a cabeça e assusta- se ao ver que o senhor sumiu e no seu lugar está a
xícara inteira novamente. Levanta – se, tira a poeira do corpo e vai descendo a
colina olha para trás e nota uma pequena flor desabrochando na árvore.
A paz invade sua alma, o sol aquece seu
coração, a primavera chegou ao seu mundo, você pode sonhar novamente, era isso
que lhe faltava esta manhã o poder de sonhar...
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