Os primeiros flocos de neve já caiam e em algumas horas as ruas estariam
cobertas do branco gelado que começara a predominar o planeta. Isso indicava
uma nova era do gelo que poderia durar milhares de anos ou apenas uma noite, a
mais gelada de toda minha existência. Contarei como tudo começou...
Quando
acordei os pássaros cantavam, as flores exalavam seu doce aroma, a vida era
celebra com os raios de sol que invadiam os cômodos da casa. Levantei com uma
disposição incrível e rapidamente terminei meus afazeres e fui cuidar do meu
jardim que havia sofrido duas grandes perdas e estava se recuperando da ultima
nevasca que o atingiu após uma falecer.
Cheguei
ao canteiro de tulipas, estavam belas com suas cores vivas, porém havia uma que
começava a murchar. Rapidamente peguei meus materiais para trata-la e após um
observa-la fui para a varanda e assumi meu lugar na poltrona que fora herança
de família.
Recordava-me
da primeira perda do meu jardim... Foi no canteiro de lírios, numa manhã de
outubro, ele tinha sido acometido por uma doença e apesar de meus cuidados ele
não resistiu e assim como ele a primavera se foi daquele canteiro. Um ano após
a perda do lírio o canteiro de rosas apresentou problemas e uma rosa, a mais
bela de todas, a que me trazia alegria todas as manhãs foi levada pelo forte
vento que assolara meu jardim e assim como o canteiro de lírios o de rosas
também começou a sofrer com o inverno.
Começava
a esfriar. Entrei em casa e após um banho quente beberiquei o chá que havia
preparado. Na manhã seguinte saí para comprar umas sementes e resolver uns
problemas pendentes, estava a três quarteirões de casa quando o celular tocou e
uma voz reconhecida deu-me a notícia que mais temia. As lágrimas escorriam pela
minha face enquanto corria para meu lar. Abri a porta num rompante e corri para
o jardim, mas já era tarde demais... Minha doce tulipa se fora deixando o
canteiro machucado e vazio.
E
os primeiros flocos de neve começaram a cair...
Cambaleando
com a mão no peito saí da nevasca que agora tomava conta do jardim, sem forças
deixe-me levar pelo turbilhão de lembranças e pelo torpor que parecia
aconchegante demais e assim fiquei durante dias.
A
campainha tocara e sem vontade me dirigi até a porta. O inverno assolava meu
planeta, nem a lareira era capaz de trazer conforto. Ao girar a maçaneta senti
algo diferente e quando abri à porta a luz do sol entrou e parado na soleira
estava um belo moço com uns pacotes que me eram conhecidos. No dia que minha
tulipa se fora o desespero fora tamanho que nem notei minhas sementes e
ferramentas caírem e ficarem para trás, e um rapaz as pegou, porém quando se
voltou na minha direção eu já não estava lá.
Durante
todos esses dias havia procurado a dona dos pacotes e finalmente batera na
porta certa. O gelo começava a derreter, o inverno estava acabando e a
primavera chegava de mansinho.
Após
alguns anos retornei ao meu jardim que ficara sob os cuidados de meu melhor
amigo. A primavera voltara, as flores exalavam o doce aroma da vida, as
borboletas voavam de um canto a outro. E no canteiro de orquídeas plantadas por
ele, brotava uma pequena flor, fiquei parada observando-a. Sussurrou algumas
palavras ao meu ouvido e me abraçou. O jardim estava em festa e dali alguns
meses a pequena orquídea floresceria.
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