Sonhos parecem não habitar cascos velhos e partidos, não
habitam a carcaça de um coração despedaçado pela vida... A chama se apagou dos
olhos, o riso morrera antes mesmo de chegar aos lábios. Os sentimentos se foram
há muito luas, uma marionete tem mais vida do que esse casco vazio.
Caminha a esmo pelas ruas enegrecidas pelo tempo, como um
fantasma, passa sem ser notado, é muito fácil ser apenas mais um na multidão,
cada um vive sua desgraça diária. A cegueira toma todos os corações, como a
peste que se espalha sorrateiramente através da noite, trazendo a morte para
todos que ela toca.
Houve uma época que todos os corações sorriam ao passar
da mais leve brisa, foram tempos doces e primaveris. As flores desabrochavam
colorindo as campinas que explodiam de vida. Mas a tempestade sempre chega
devastando tudo que interpõe seu caminho. A fúria dos ventos arrancou as mais
frondosas árvores pela raiz, restando apenas o casco vazio, apodrecido pelo
tempo.
Incêndios consumiam os lares construídos pelos corações
apaixonados pela vida, restando somente as cinzas que também foram carregadas
pelo vento, deixando o vazio de mundo enegrecido e consumido pelo tempo.
O mundo se tornou um lugar inabitável, vazio e frio,
cheio de fantasmas, zumbis que caminham sem rumo...